quarta-feira, 14 de maio de 2008

Uma mala de histórias pra viajar...


Quantas viagens - o seu término, o seu início numa estação de trem, de ônibus, de conhecimento... O que haveria numa estação de conhecimento? qual seria meu bilhete de troca, antes, o que poderia entregar para receber tal passagem... Qual o valor dessa passagem, quem determina esse valor, quem recebe ou quem dá... quem vai facilitar tal operação... Se não há a estação, se não há o encontro, posso ficar andando com minha mala a procura, a procura de um lugar, de um olhar que possa me recepcionar e quem sabe até me hospedar.

Era uma quarta-feira chuvosa e um pouco fria, levava comigo um casaco, um guarda-chuva enorme xadrez e uma mala preparada no dia anterior com aquelas histórias que pensei, talvez pudesse interessar. Ao descer do ônibus desaba uma tempestade, fico com as pernas das calças e sapatos encharcados. E lá fui imaginando como seria chegar a esse abrigo dessa maneira. Como as crianças reagiriam. Já havia combinado com as psicólogas que eu chegaria como uma estranha, procurando por crianças que quisessem ouvir minhas histórias e tantas outras que levava comigo naquela mala.

Ao chegar ao abrigo, até mesmo as psicólogas que eu havia conhecido e conversado há uma semana, se surpreenderam com o meu trajar.
Ao me verem, algumas crianças já foram dizendo: “Não deixa ela entrar” “É, manda ela embora!” Ao ouvir isso disse quase que simultaneamente com uma outra psicóloga: Eu dizia: “Tudo bem, eu vou, é que trago comigo muitas histórias, mas já que eles não querem ouvir, deve haver outro lugar com crianças querendo ouvir as muitas histórias que trago na mala...” e já ia saindo e ouvindo a psicóloga dizendo: “Puxa vida, é assim que vocês tratam visitas!?” e eu continuava dizendo: “Vou encontrar outras crianças pra ouvirem as histórias, já que essas crianças não gostam...” e então, as crianças começaram a gritar e falar juntas: “Não, não vai não!” “Fica!” “A gente quer ouvir histórias sim!” ... Então, entrei, eles arranjaram um lugar pra mim em meio às almofadas, enquanto me perguntavam de onde eu era, como tinha chegado ali, o que tinha na mala... Eu ia respondendo e misturando minha história com as histórias da mala e eles ouviam tudo de olhos abertos, prestando muita atenção, ao final perguntei se poderia voltar, ao que eles responderam que sim, então deixei alguns livros com eles, inclusive com a Tia monitora, a qual prestou também bastante atenção e me fez perguntas, “É verdade que se a gente ler bastante melhora a nossa caligrafia?”...

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