quinta-feira, 31 de julho de 2008

... e quem vai dizer "tchau"

Hoje chegando ao abrigo encontrei algumas crianças e monitoras chorando, irritadas e bravas com o fato de “03 tias” terem deixado o Abrigo - é que o contrato delas havia vencido e agora a Prefeitura deveria contratar outras. Neste caso podemos imaginar o Abrigo como mais um departamento dentro da Prefeitura, regido pelo seu sistema burocrático, difícil é explicar isso para crianças e adolescentes de 00 a 18 anos.
Pensei nesse momento sobre aquela idéia de estabelecer ou não vínculos com essas crianças, mas verificando sobre esse conceito, não vejo como haver mediação cultural dialógica sem o estabelecimento de vínculos.
Vínculo é definido por Pichon-Rivieré como "uma estrutura complexa que inclui um sujeito, um objeto, e sua mútua interelação com processos de comunicação e aprendizagem." Segundo essa teoria o homem é um ser-em-relação, ou seja, está envolvido numa estrutura dinâmica e movido por motivações em campos externo e interno a si. A aprendizagem se situa num jogo contínuo entre esses campos onde o vínculo contém em si a contradição da permanência – uma identidade ou uma dinâmica própria – e, da transformação constantemente – por conta dos papéis que as pessoas têm em suas histórias indivíduais e sociais integradas em tempo e espaço.
Esse foi o momento que presenciei, mas como trabalhar a desvinculação? Penso que uma das respostas possa estar na transformação, enquanto crescimento emocional, psicológico e intelectual não só das crianças e adolescentes que ali ficaram como também dos monitores. Assim como há um “aquecer” no processo de estabelecimento de vínculos, deverá haver também esse "aquecer" para a desvinculação, ou seja, as pessoas envolvidas se preparam para esse momento, como numa estação, os que vão ficar acenando “tchau” e os que vão...
Faz parte da vida ficar e partir, mas é preciso sabedoria tanto para ficar como para partir...